sábado, 10 de abril de 2010

PARAÍSO TROPICAL...


Por Marcos A. de Souza.
Não foi um dilúvio apocalíptico que se abateu sob o estado do Rio de Janeiro... 
Apesar do grande volume de chuvas que atingiu o estado, o gigantismo da catástrofe nada mais que foi que o resultado de uma  desastrosa forma de gestão territorial baseada numa lógica em que o mercado ordena a cidade, materializando concretamente a própria luta de classes pela apropriação do espaço urbano.
Aos trabalhadores, submetidos  a exploração cotidianamente, lhes restam habitar  as periferias mal localizadas das cidades, enquanto que o Estado atua em favor dos grandes promotores imobiliários, que especulam e inflacionam o mercado do solo urbano.
Aos segregados habitantes das favelas, restam conviver cotidianamente com o perigo, uma vez que o aparelho do Estado, que não hesita em utilizar seu aparelho repressor para defender os interesses da classe que o controla, tem permanecido inerte diante dos gigantescos problemas vividos pelas cidades brasileiras.
Da   violência urbana às catástrofes socioambientais, fica evidente como são selecionadas as vítimas... E isso não é uma mera obra do acaso ou resultado de uma intempérie sem precedentes.
Sem um planejamento urbano racional que priorize a qualidade de vida de toda a população em detrimento dos interesses mercantilistas, todos os anos tragédias como estas irão soterrar centenas de pessoas nas cidades do país.
Elas já nem conseguem mais nos comover pela freqüência e pela similaridade com que vem ocorrendo.
É o preço a se pagar pela continuidade do modelo "casa-grande-senzala", ainda reproduzido na nossa sociedade.
Enquanto as classes que mais exploram permanecem encasteladas  no "paraíso tropical" das alienantes tramas globais,   a massa de trabalhadores que com seu suor e sangue geram a riqueza do senhor,  permanecem habitando as senzalas dos morros, nos fundos de vale e nos manguezais.
Amontoados sobre os morros que desabam com as aguas do verão, morrem os braços da lavoura e da indústria...
 Pior sorte do que o gado, as galinhas, os porcos e as máquinas, que gozam de edificações seguras porque são patrimônio do senhor...
Enquanto isso, os ideólogos do status quo irão reforçar a sua tese do aquecimento global e as tempestades diluvianas...
O apocalipse vem aí... Para muitos ele já aconteceu... 
E como "Deus é brasileiro",  por aqui não passam os furacões avassaladores e nem a Terra treme com tanta intensidade...
Por que se ocorressem, o Haiti seria verdadeiramente aqui...No paraíso tropical...

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