A DUPLA MORAL DE URIBE NO COMBATE AO NARCOTRÁFICO COLOMBIANO

Imagem: http://www.cbc.ca/gfx/images/news/photos/2009/01/13/alvaro-uribe-cp-6085007.jpg

Por Marcos A. de Souza

A mídia tem exaltado em várias ocasiões o exemplo colombiano no combate ao narcotráfico e a violência inerente a esta atividade ilegal, exaltando as ações do presidente Alvaro Uribe Velez, em colaboração com o Pentágono. O mais estranho de tudo é que durante esse período em que a pomba da paz resolveu pousar em território colombiano pelas mãos de Uribe, as remessas de cocaína não cessaram em atender a demanda estadunidense e da Europa.

Resultados a parte, o certo é que a gestão Uribe é evocada como exemplo a ser seguido no combate ao tráfico de drogas... Tanto que o hoje Paladino da luta anti-narcóticos pleiteia um terceiro mandato no país andino.

Mas desde quando o sr. Alvaro Uribe Velez tem sido um valente lutador contra o tráfico de drogas?

O próprio Departamento de Inteligência dos EUA, seu atual maior colaborador, em relatório datado de 1991, associa o atual presidente da Colômbia a " um político dedicado a colaboração com o cartel de Medelín", apontando o megatraficante Pablo Escobar Gavíria como amigo de Uribe, outrora prefeito desta cidade dominada pelo narcotráfico durante décadas.

Imagem: http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB131/diaexcerpt.jpg

Não obstante, há indícios levantados por vários meios de que a morte violenta do pai de Alvaro Uribe, Alberto Uribe Sierra, pelas FARCs se deveu ao fato de suas relações com os grupos paramilitares de direita.

O certo é que Joseph Contreras, repórter da revista estadunidense Newsweek, no seu livro "Biografia no autorizada de Alvaro Uribe Velez", aponta que após a morte do pai e o ferimento de Santiago, irmão de Uribe, supostamente pelas FARCs, ninguém menos que Pablo Escobar envia um helicóptero para resgatar o corpo e transladar o irmão ferido...Versão esta ratificada pela mulher de Pablo Escobar, Virginia Vallejo, radicada em Miami na atualidade. Nem mesmo a TV Globo, entusiasta em várias reportagens do modus operandi de Alvaro Uribe, deixou de noticiar as declarações de Virginia Vallejo, senão vejamos este vídeo.

Até mesmo o ultraconservador jornal estadunidense "El Nuevo Herald" noticiou nos anos oitenta que um helicóptero de propriedade da família Uribe fora encontrado em uma fazenda colombiana com nada menos do que 14 fábricas de cocaína, utilizada para a produção de 20 toneladas desta droga por semana.

Não menos importante fora a gestão Uribe quando este era Diretor Nacional da Aviação Civil Colombiana, e suas possíveis ações em favor do tráfico internacional de drogas.

A própria mulher do falecido Pablo Escobar em um recente livro intitulado "Amando a Pablo, odiando a Escobar" relata que nesse posto estratégico de Diretor Nacional de Aviação Civil, Uribe "concedeu dezenas de licenças para pistas de aterrissagem e centenas para os aviões e helicópteros sobre os quais se construiu toda a infra-estrutura do narcotráfico".

Mas enfim, 2002 foi o ano da mudança. Ano em que Alvaro Uribe se elegeu presidente da Colombia, e juntamente com os EUA empreenderam uma cruzada contra o narcotráfico e as FARCs, mas contraditoriamente não tiraram a Colômbia da primeira posição no ranking do tráfico de cocaína no mundo...

A PARCERIA COM WASHINGTON CONTINUA: A COLOMBIA SEGUE SENDO LÍDER NA EXPORTAÇÃO MUNDIAL DE COCAÍNA

Imagem :http://www3.pictures.zimbio.com/

Nesta luta tida como exemplar pela mídia, ninguém noticia por exemplo que o Exército Nacional é acusado de cometer verdadeiros genocídios pelo país. Recentemente foi encontrado em uma vala comum na localidade de La Macarena, com nada menos que 2.500 corpos, enterrados aí pelo Exército colombiano, que justifica como sendo mortos da luta contra os guerrilheiros das FARCs. Fato que a população local desmente, alegando que a maior parte dos mortos se tratam de execuções extra-judiciais de camponeses, indígenas e lideranças comunitárias dos povoados vizinhos.Não obstante, esta não é a primeira vez que corpos são encontrados com marcas de fuzilamento em valas comuns na Colômbia.

E provavelmente não será a última. Nesta semana foi preso na Colômbia o narcotraficante e chefe paramilitar "Don Mário" que tem feito revelações no mínimo assustadoras. Ele teria confessado a Promotoria ter ajudado o exercito colombiano a executar no mínimo "180 pessoas indefesas", na sua política repressiva pelo interior do país.

Imagem: http://erico.soylocoporti.org.br/files/2009/08/plano-colombia-230x294.jpg

E o pior de tudo: este narcotraficante afirmou que aviões da Força Aérea Colombiana auxiliaram seu bando na luta contra outros grupos de narcotraficantes, lançando bombardeios contra seus alvos.
Paralelamente a estas ações, a mídia internacional tem noticiado nos últimos meses o envolvimento de várias autoridades e congressistas da base aliada do presidente com grupos paramilitares, responsáveis historicamente por dezenas de milhares de mortos neste país. A situação chega a tal ponto que em meados de 2008, o alto escalão do partido "Colômbia Democrática", partido de Uribe, estava preso.
Não menos intrigantes são as declarações de líderes narcotraficantes de grupos paramilitares presos recentemente, como é o caso de Diego Murillo, o "Don Berna", que confessou ter doado dinheiro a campanha presidencial de Uribe, para evitar o "perigo comunista" que supostamente ameaçava a Colômbia.

Este é o exemplo na luta anti-narcóticos? Será que a mídia brasileira deseja ver valas comuns com 2.500 corpos de brasileiros mortos em ações sanguinárias do Estado? Ou será que desejam ver nossa Força Aérea bombardeando uma favela para facilitar que outros grupos de traficantes dominem o local?

Desejam que os EUA construam bases por aqui? Que fumeguem nossas matas com glifosato produzido pela Monsanto?

Não obstante, sete bases militares são instaladas no coração da Amazônia colombiana, como verdadeiros fortes no meio da floresta para demarcar território e salvaguardar posições já conquistadas pelo imperialismo estadunidense.

Enquanto isso, as exportações de cocaína só tem aumentado, e a "pacificação" dos centros urbanos colombianos tem empurrado os combates para o interior do país, sem indicios de que a violencia tenha diminuído, mas migrado espacialmente. Uma vitrine para brasileiro ver e almejar copiar como exemplo para o Rio de Janeiro ou São Paulo... E para colombiano dar um terceiro mandato ao sr. Alvaro Uribe Velez.

São negócios...E quão rentáveis são estes negócios... Tão rentáveis que supostamente fizeram o sr. Alvaro Uribe mudar de lado... E não querer mais desgarrar do poder...