OUTUBRO
DE 2002: O Brasil elegia em meio as incertezas dos senhores de Wall Street e as
esperanças de dezenas de milhões de brasileiros o primeiro presidente de origem
popular da sua história.
Enfim,
a esperança teria vencido o medo e a emancipação política e social do país do
futuro inatingível seria questão de meses.
Com
uma biografia cinematográfica e um carisma inconteste, Lula que protagonizou
momentos marcantes da história contemporânea brasileira, liderando os
trabalhadores em importantes trincheiras em defesa de seus direitos,
na presidência da República se prestou a um papel que não condiz com
essa luta histórica da classe trabalhadora latinoamericana...
Seus
oito anos no poder foram marcados por enormes contradições : Poucas horas antes
de discursar no Fórum Economico Mundial de Davos na Suiça, Lula fazia o uso da
palavra no Fórum Social Mundial...
O
mesmo Lula, que juntamente com o líder cubano Fidel Castro criara o Foro de São
Paulo, era o mesmo que tranquilizava os especuladores capitalistas com uma
ortodoxia econômica de dar inveja a FHC... Que o diga o superávit
primário... E a taxa de juros nas alturas...
No
Plano interno, uma leve e singela queda das desigualdades através de uma
frágil, mais todavia necessária rede de proteção social, demonstrou claramente
que muito mais poderia ser feito se fosse atacado os elementos estruturais que
causam as desigualdades. O fato é que isto provocaria uma série de
descontentamentos que o “Lulinha Paz e Amor” tratou de evitar em nome de uma
paz social que somente beneficia o establishment...
Lula
encarna perfeitamente a figura do Estado mediador da luta de classes descrito
por Lênin há quase um século. É a versão moderna da caracterização do
getulismo: "o pai dos pobres e a mãe dos ricos".
Até
mesmo nossa política exterior não se desvencilhou completamente do
subimperialismo que pulsa no peito do antigo defensor do internacionalismo
proletário...
Mais
alguns pontos positivos ficam do governo Lula: A rápida saída da crise
internacional que levou a recessão várias economias sólidas do Primeiro Mundo,
a diminuição da dependencia comercial do Brasil com relação aos EUA, e uma
postura geopolítica mais soberana... nada que não pudesse ser ampliado caso
Lula fosse de fato "um filho legítimo da classe trabalhadora da
América Latina", como sentenciou a Revista Time.
Tampouco
deixa para o país um projeto a ser continuado do "Brasil Nação"...
Lula perdeu a chance histórica da construção social deste projeto,
preferindo construir uma frágil política de governo que dificilmente
terá exito com sua sucessora, que deverá sim ser a vitoriosa nesse ano, embora estará presa no labirinto criado pelo lulismo, o que tornará seu governo, e a própria existência da esquerda com chances de chegar ao poder pelas vias burguesas, insustentáveis e moribundas a
médio prazo...
Muitas
contradições movem Lula... E é claro, se não fossem elas, sua habilidade em
servir dois senhores ao mesmo tempo, certamente Lula nunca estaria em posição
de destaque nas páginas da Times,News Week, Le Monde ou El País, alguns dos
quais, meios de comunicação comprometidos com a forma mais animalesca de
capitalismo, que não titubearão em lança-lo aos lobos quando seus serviços já
não forem mais necessários...
Contradições
estas que agradam dos nordestinos a boa parte dos senhores capitalistas da
Avenida Paulista e suas conexões com Wall Street.
Cobre
os ricos, os banqueiros e os grandes monopólios nacionais e internacionais com
o manto da prosperidade e aos pobres o frágil cobertor da subsistencia...
E de fato, Obama não está mentindo quando diz que ele é o "cara".
Afinal há de convir que tem de ser muito hábil para manter por muito tempo a
posição de servir a dois senhores sem provocar a ira de um dos dois, como
apontam o mar de tranquilidade da alta popularidade que goza Lula. Só nos resta
saber qual dos dois senhores irá sublevar primeiro... A história nos ensina com
demasiada eloquência que aqueles que aceitam convites para banquetear com o
establishment, mais cedo ou mais tarde acabam engolidos por seus aparelhos
ideológicos...
Por
agora, diante de tantos elogios nos media mass alinhados aos interesses do
capital internacional, há de se questionar se que quando as raposas elogiam os
vigilantes do galinheiro, o futuro das galinhas não está tão seguro quanto
parece...
Só o futuro dirá se é realmente bom
ter um presidente elogiado, por quem em tese deveria criticar de forma dura
todos aqueles que emergissem como "um filho legítimo da classe
trabalhadora da América Latina". Porque esses são uma ameaça ao império da
qual esses meios são os porta-vozes e sustentáculos ideológicos.
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