sábado, 31 de julho de 2010

O DESVIO PADRÃO DA VERDADE...


Por Marcos A. de Souza
Mais uma pesquisa eleitoral foi divulgada. E esta também destoa da série histórica “empate” produzida pelo DataFolha.
De acordo com a mais nova pesquisa divulgada pelo IBOPE, a candidata do PT Dilma Roussef aparece com 39% dos votos contra 34% de José Serra...
Alguns dias atrás outro instituto, o Vox Populi apontava que a candidata do PT aparecia 8 pontos a frente do tucano, estando com 41% das inteções de votos contra 33% de Serra.
Não obstante,  uma outra sondagem, desta vez divulgada pelo DATAFOLHA, apontava um empate técnico, com uma leve vantagem numérica para José Serra que aparecia com 37% e Dilma detinha, segundo o instituto, 36%. 
Conclusão: Ou Dilma está caminhando para uma vitória no primeiro turno ou  a disputa está acirradíssima com uma leve vantagem para o candidato do PSDB. Ou melhor, conclusão nenhuma.
Já dizia com razão o professor José Juliano de Carvalho Filho, que a estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem...
Se submetermos esses números a torturas mais leves do que certamente já sofreram,  eles nos dirão o que queremos escutar.
Vamos pegar primeiro o chicote da margem de erro. Na pesquisa VOX POPULI era de 1,8% para mais ou para menos...Isso significa dizer que não se estará faltando com a verdade  se alguém disser que Dilma pode ter 42,8% e José Serra 31,2%.
Pronto, Dilma estaria a 0,7 pontos percentuais para ser eleita em primeiro turno, porque com os demais candidatos somando 9%, a petista estaria com  49,4% dos votos válidos contra 37,5% de Serra, levando-se em conta que brancos, nulos e indecisos somam juntos 17%.
Agora vamos torturar os números agonizantes do DATAFOLHA da mesma forma que fizemos anteriormente, ou seja, a favor de Dilma: Com uma margem de erro de 2%, Dilma poderia estar na melhor das hipóteses com 38% contra 35% de Serra... 
E por último vamos estender essa tortura aos números do IBOPE: Dilma aparece com 39% contra 34% de Serra. Com a margem de erro a petista  poderia ter 41% contra 32% do tucano, ou ainda, a Dilma poderia ter 47,1% dos votos válidos contra 40,9% de Serra.
Voltando a pesquisa divulgada pelo DATAFOLHA, no cenário mais favorável a Serra, o tucano poderia ter 39% contra 34 de Dilma: Surpreendentemente a pesquisa do IBOPE ao contrário!!!
É a antítese do pior cenário de Dilma apresentado pelo VOX POPULI: Dilma  com 39,2% e Serra com 34,8%!!!
Viram que interessante? Estas pesquisas podem querer dizer muita coisa e no final das contas não dizer nada? Ora, lendo os cenários mais favoráveis de Dilma ela tanto poderia estar a ponto de ganhar no primeiro turno quanto estar longe de chegar lá ou muito perto... Que confusão, não?!
E olha que nem foi uma tortura... Foram só, digamos, uns tapinhas pedagógicos... Só trabalhando com a margem de erro - que também pode ser um desvio padrão da verdade - o produto final pode ser trabalhado ao gosto do freguês. É isso o que sugere tamanha contradição nos resultados destas pesquisas produzidas em tão curto intervalo de tempo.
Afinal, como interpretar os números das pesquisas eleitorais, produzidas em meio a tantas metodologias diferentes e encomendadas por clientes com os mais distintos interesses, o que por sua vez se traduzem em preferências políticas?
Estariam isentos da "tortura" os números que insistem em dizer o contrário do que gostariam de ouvir os políticos ou os que encomendam as sondagens? Até porque os institutos de pesquisas sobrevivem dos valores pagos por quem solicita estas pesquisas.
Num país onde inexiste o fator consciência política, as pessoas tendem a se identificar com o candidato que está na dianteira, assim como a dona de casa se identifica com a esponja de aço recomendada por aquela atriz que nunca lavou louça.
Assim, as pesquisas devem ser encaradas como mais um instrumento de marketing para os candidatos.
E quando se aplica o desvio padrão da verdade nestas pesquisas, o produto, no caso o candidato, passa a ser valorizado pela cultura da “preferência nacional” que suplanta o julgamento individual do eleitor, reduzindo-o a um mero agente multiplicador de uma propaganda de sucesso.
Na página web da Folha, que noticia esta última pesquisa do IBOPE, há uma ponderação implícita a que esclarece o leitor o fato de que o IBOPE ouviu 2.506 eleitores, enquanto que o DATAFOLHA ouviu 10.905, o que numericamente falando apontaria para uma maior credibilidade da pesquisa que consultou uma maior amostra.
Ledo engano... Até porque parecem ter se esquecido que para fazer um exame de sangue não é preciso retirar todo o sangue do corpo...

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