domingo, 3 de janeiro de 2010

MAIS UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA


Deslizamentos de terra em Angra dos Reis: Mais de 60 mortos no estado do Rio
Fonte da Imagem: http://www.elpais.com

Por Marcos A. de Souza.

Enquanto que na Praia de Copacabana toneladas de  fogos de artificio anunciavam a chegada de mais um ano, nos morros cariocas e fluminenses, os raios e os trovões prenunciavam mais uma tragédia de verão, na qual toneladas de terra soterraram dezenas de pessoas, vitimadas pelas ultimas chuvas de 2009 e as primeiras de 2010.
Como um velho e conhecido filme em cartaz até que "as aguas de março encerrem o verão", tragédias como estas não são de responsabilidade exclusiva das intempéries que, como alardeam os media mass estão mais potentes nesses tempos de mudança climática.
O fato é que estas tragédias do cotidiano das grandes metrópoles brasileiras se devem a própria dinâmica do processo de produção do espaço urbano, num contexto em que a vulnerabilidade socioambiental é tecida a partir da própria luta de classes, senão vejamos.
Na sociedade capitalista o espaço urbano nada mais é que o reflexo da sociedade de classes existente e a forma como estas classes ou frações de classes procuram através de seu poder de compra, adquirir sua localização na cidade.
E como morar é uma necessidade a qual comparte todos os indivíduos, e que no capitalismo a moradia é mais uma mercadoria sujeita as leis de mercado, é óbvio que essas desigualdades produzirão uma segregação sócio-espacial, traduzida em vulnerabilidade socioambiental.
Como numa sociedade de classes se observa o acesso diferenciado dos indivíduos aos bens e serviços produzidos socialmente, logo a habitação será um desses bens de caso seletivo, onde um grande número de pessoas não terão acesso a ela na sua plenitude.
E é neste contexto que os grupos sociais excluídos resolvendo onde e como morar, acabam invadindo áreas sem um valor de uso para os outros agentes sociais que atuam na produção do espaço urbano (Promotores imobiliários, especuladores fundiários, etc), como morros, encostas e fundos de vale,  produzindo assim as favelas e expondo milhões de pessoas à vulnerabilidade socioambiental, potencializada pela especulação fundiária e a inércia estatal diante desta diãmica urbana segregadora.

Num contexto em que milhões de pessoas habitam os morros cariocas e fluminenses, além dos fundos de vale em várias regiões do país,  não é de se espantar que eventos da natureza possam se traduzir em tragégias avassaladoras, consumindo um grande numero de vidas humanas.
É comum os "especialistas midiáticos de plantão" se referirem a causa destas tragédias como sendo as tão propaladas"ocupações ilegais", num tom que parecem ser as vítimas as culpadas pela favelização dos morros, e não toda uma dinâmica urbana totalmente excludente e com aval da inércia do Estado.
Ora, nenhuma das familias que habitam essas "zonas de risco", estão aí por que assim desejam, mas sim pela materialização do seu poder de compra diante de uma lógica segregadora e como estamos vendo, genocida.
Paralelamente a esses fatores de vulnerabilidade dos grupos sociais excluídos, emerge ainda uma outra categoria, explicitada na tragédia de Ilha Grande, em Angra dos Reis, que é a mercantilização das paisagens naturais pelo turismo.


Pousada Sankay antes da tragédia. Nota-se uma proximidade exagerada com o morro e o mar. 

Esse processo se dá através das disputas territoriais entre os vários empreendimentos do setor de turismo para conseguirem a melhor localização geográfica "de frente para o mar", "em comunhão com a natureza", mesmo que para isso não haja o estabelecimento de regras bem claras para o uso e ocupação destas porções com vantagens comparativas que se traduzirão numa maior fonte de riquezas para o turismo.
Há quem diga que se no Brasil tivessemos vulcões ativos, não haveria nenhuma legislação eficiente que impediria a construção de hotéis a beira da cratera, onde os turistas poderiam observar o reservatório de lava vulcanica com toda a sua fúria, até o gran finale.


Deslizamento de terra em Angra dos Reis.
Fonte da Imagem: http://www.elpais.com/

E antes de colocar um ponto final, é pertinente ressaltarmos o exemplo cubano. No ano passado por exemplo, durante a temporada de furacões que com seus ventos superiores a 300 Km/hora varreram o território cubano deixando prejuízos da ordem de 10 bilhões de dólares, resultaram em um numero de vitimas fatais infinitamente inferior ao que as "chuvas" deixaram em menos de uma semana no Estado do Rio de Janeiro.
E quando as águas de março encerrarem o verão, essas pobres vítimas serão apenas estatisticas que aos poucos vão sendo esquecidas até que as intensas chuvas voltem a cair e mais algumas dezenas de vítimas serão soterradas pela lógica da segregação socio-espacial e pela  da inércia do Estado, comparada ao insensato da parabola bíblica que edificou a casa sobre a areia: "e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína." (Mateus 7:24-27).

Um comentário:

  1. Fala Marcos!
    Cara, muito bom o seu blog. Tomara que você consiga perseverar. Eu ti ve 3 blogs, nenhum teve uma vida muito longa, mas a gente vai melhorando, logo eu vou voltar a escrever. É ótimo termos um lugar pra expor nossas idéias e opiniões, além de exercitar a escrita e a reflexão. O grande segredo é a divulgação, claro: entre em comunidades do orkut, coloque o endereço do blog nas suas assinaturas de e-mail, etc. Mas o mais importante é escrever do que se gosta e sem pressão. Não é necessário postar uma vez por dia, isso cansa. Claro que tem gente que consegue, mas se fizer isso obrigado a qualidade inevitavelmente cai e a sua satisfação também. Não se preocupe com o número de comentários (todos que tem um site ou blog sabem que o número de comentaristas é muito menor que o de leitores). Você escreve bem, seu blog temtudo pra ser cada vez melhor, já tá nos meus favoritos. Abraços. Té mais.

    Vinicios Dias

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