Por Marcos A. de Souza
A Concertación não convenceu os chilenos. O país que durante 17 anos se viu mergulhado numa ditadura cruel e sanguinária elegeu neste domingo o Berlusconi dos Andes, herdeiro político de um grupo que não conseguia chegar ao poder pelas urnas a mais de meio século.Sebastián Piñera, o novo presidente chileno, é um bilionário que edificou seu império sob o setor financeiro, além de ser dono de uma das mais importantes cadeias de televisão do Chile, a maior empresa aérea do país e terceira da América do Sul (LAN), além do popular time de futebol Colo-Colo e tantos outros negócios... Enfim,um empresário político, que ao chegar ao poder utilizará de sua condição para aumentar seu patrimônio.
Não é a toa que o comparam ao premiê italiano Silvio Berlusconi.
Quem são os culpados pela derrota das forças progressistas no Chile?
Evidentemente que são os próprios dirigentes que governaram o país nesses últimos anos e que continuaram a seguir a cartilha dogmática do neoliberalismo econômico implantada pelo regime ditatorial de Pinochet, com doses homeopáticas de assistencialismo para acalmar a fúria que poderia emergir com o potencial aumento das necessidades enfrentadas pelos chilenos... Quanta contradição para um governo esquerdista.
Divulgado pelos meios de imprensa e pelos comentaristas de plantão como exemplo a ser seguido, o país é subcampeão das desigualdades sociais no Continente Americano, perdendo apenas para o Brasil.
Por lá os sistemas de saúde e de educação foram privatizados. Os bons indicadores sociais exibidos na vitrine do neoliberalismo se desfazem quando analisados em profundidade... Afinal, os 10% mais pobres da população ficam com menos de 1,3% da renda socialmente produzida, enquanto que os 10% mais ricos, abocanham mais de 40%.
Os direitos trabalhistas foram flexibilizados. A OIT considera que apenas 30% dos empregos são decentes neste país e as férias foram reduzidas de 1 mês para 15 dias. A instabilidade no emprego se agiganta e quase 40% não dispõe de seguridade social... O 13º salário e o seguro-desemprego também foram torturados e desapareceram no regime de Pinochet... E também não reapareceram durante o período em que o Concertación se manteve no poder.
O Chile que fora o tubo de ensaio da experiência mal sucedida do neoliberalismo na América Latina viu sua população perder a esperança nos sucessivos governos progressistas que não romperam com estas políticas econômicas que calaram seu descontentamento com migalhas e promessas de um futuro grandioso, vislumbrados através de discursos que se distanciavam da prática...
E o povo chileno depositou como não fazia meio século sua esperança de mudança na direita... Por que a esquerda, que tinha a “faca e o queijo na mão” para matar a fome de emancipação política, econômica e social, transformou Eduardo Frei e a Concertación em inimigos de si próprios através de suas ações, ou melhor, de sua inércia.
Pobre Chile... Logo veremos as greves e a insurreição nas ruas de Santiago... Porque o Berlusconi dos Andes vem aí, pronto para ressuscitar os velhos fantasmas do passado... Que ninguém se surpreenda se os esbirros de Pinochet e sua camarilha fascista ascender ao novo governo!!!
Afinal, os mesmos que bombardearam o La Moneda entrarão agora pela porta da frente, vestidos com o manto da legalidade.
Afinal, os mesmos que bombardearam o La Moneda entrarão agora pela porta da frente, vestidos com o manto da legalidade.
Que isso sirva de lição para a esquerda brasileira... E para aqueles que repousam sobre os louros da vitória de Dilma através da transferencia de votos da popularidade de Lula, ouçam o recado que vem do Chile : Michele Bachelet também com uma popularidade próxima aos 80%, não conseguiu transferir votos ao seu candidato Eduardo Frei, que saiu derrotado das urnas...Por um candidato de direita...
Nestas terras de veias abertas, basta a “barriga roncar” que o povo despolitizado troca logo de bandeira, e sua única ideologia passa a ser navegar por onde sopram os ventos que sinalizam alguma mudança... Venham de onde vier... Eles já não tem mais nada a perder... Continuarão errantes em busca desta mudança, que no seu intimo, jamais acontecerá, porque no final das contas, todos os caminhos conduzem à DECEPÇÃO.
Piñera discursa em apoio a Pinochet
Marcos. Na sua opinião qual foi o país com "governado pela esquerda" mais se aproximou dos ideais socialista. O Brasil de Lula, ou o Chile da Michele, tão elogiada pela revista Veja?
ResponderExcluirSinceramente os dois seguem uma mesma linha. Se a revista Veja elogia Bachelet no Brasil, o "El Mercurio" do Chile elogia o Lula. Lula seguiu a mesma política econômica que FHC, sendo inclusive mais ortodoxo. Os banqueiros nunca lucraram tanto... Não se fizeram nenhuma reforma importante (e olhe que reforma não consta na lista de nehum socialistas sério, porque soa conservador demais...).
ResponderExcluirQual o legado que Lula deixará? E o projeto nacional do governo Lula?
Reitero que prefiro Lula a FHC ou Serra, mas definitivamente em oito anos ficou aquém do esperado.