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Por Marcos A. de Souza
Há séculos uma invasão européia a um território ameríndio dava origem ao Brasil tal qual conhecemos hoje.
Ao invés das foices e das enxadas que caracterizam os movimentos sociais tão criticados e criminalizados atualmente, nossos pioneiros vieram com seus arcabuzes e suas naus para submeterem os filhos legítimos destas terras que desconheciam as cercas demarcatórias da sacralizada propriedade privada.
Invadiram, escravizaram e submeteram estas terras tropicais as quais Caminha, o antecessor dos jornalistas comprometidos com o poder, apontou que aqui, se plantando tudo dá...
Retalharam o território recém-invadido em quinze fazendas e distribuíram entre os improdutivos donatários, precursores do latifúndio brasileiro...Estabeleceram acampamento e se assentaram definitivamente nestas terras... Foi nossa primeira Reforma Agrária!!!
Negociavam nos mercados os frutos e os filhos da terra... Saquearam os armazéns e os silos naturais, contrabandeando o ouro, as madeiras nobres rumo a metrópole... Empreenderam invasões sobre as possessões espanholas, quase dobrando a área conquistada na primeira invasão...
Não satisfeitos, batizaram este solo com as queimadas da cana-de-açúcar, condenando-os a toda maldição da improdutividade futura, da concentração da terra pelos senhores dos engenhos que ensinaram aos seus descendentes o ofício da conversão dos frutos da terra em um negócio rentável, selvagem e avassalador.
Plantaram sob estas terras as raízes do agronegócio brasileiro... e com ele herdamos o subdesenvolvimento, a dependência e a pobreza... O modelo "Casa-grande e senzala" forjado pelos heróis da invasão para salvaguardar suas conquistas permanece inalterado, mas mascarado neste país do Carnaval....
1850 foi um ano paradigmático... Ano em que nossa Primeira Reforma Agrária foi institucionalizada de fato, e os invasores ganharam o "Título de Propriedade Eterna".
Da terra invadida brotou uma elite agrária opulenta, que converteu o Brasil em um gigantesco latifúndio em que reinava os senhores feudais dos trópicos e os seus servos obedeciam... Servos que migravam de outras latitudes com a fantasia de se converterem em senhores...
Alguns conseguiram... Outros tantos não. Não compreendiam o fato de que para produzir a terra era necessário se submeter a alguém, se abundavam as terras nesse país gigante pela própria natureza... Mas era o que pregava nossa primeira Lei de Reforma Agrária... Afinal, como obrigar os imigrantes estrangeiros a se submeterem ao poder dos senhores feudais dos trópicos se havia terras para quantos quisessem...
E estendenderam seu poder sobre os campos e as cidades, materializando seus capitais acumulados em indústrias e bancos para financiar este sistema diabólico, mantido através da exploração dos neoescravos...
Abriram as porteiras para que outras invasões estrangeiras saqueassem ainda mais o território.
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As décadas forma passando e o pacto social travado no calor da invasão jamais foi rompido... Os primeiros invasores estão no Panteão dos Heróis da Pátria... Segundo aquela economista-comentarista sabe-tudo são os "heróis da economia"...
Os membros dos movimentos sociais que clamam pelo direito à terra estão indo para a cadeia...quando não para a Necrópole... São os "bandidos do MST" como alardeiam os media mass...
E as invasões continuam... Gigantestas porções territoriais pertencentes a União, inclusive em áreas sob o domínio de biomas fortemente ameaçados são invadidas pelos heróicos agro-empreendedores da modernidade... Ocupam a terra como estratégia de renda capitalizada e condenam o resto da sociedade a pagar um tributo para que o agronegócio produza...ou não..
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Não se contentaram em invadir a terra. Sua ganância destrutiva invade nossos corpos e instauram um genocídio silencioso!!!
Destroem as bases naturais da própria vida... Contaminam nossas células e destroem nossos órgãos com os agrotóxicos que potencializam seus lucros... É a institucionalização da barbárie mascarada de eficiência produtiva, de multiplicação da riqueza... Concretizada nas contas bancárias dos senhores feudais dos trópicos...
Se multiplicam as mortes por canceres numa proporção jamais vista... Batem-se recordes da concentração de terras e de renda... E a escravidão continua a bailar neste paraíso carnavalesco mascarada de bóias-frias, de proletários rurais que esgotam sua energia vital em troca de um prato de comida que sequer repõe a energia perdida no eito!!!
Expulsaram milhões do campo para potencializarem seus rendimentos... E as senzalas se transferiram para a urbe.
CASA-GRANDE E SENZALA DO PERÍODO COLONIAL
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Comparando as senzalas de ontem com as favelas de hoje, a unica mudanças perceptíveis são as antenas que dominam a paisagem e torturam os músculos das nossas consciências, apascentando os instintos de rebeldia... Os chicotes de outrora não estalam mais sob o couro dos escravos, porque descobriram mecanismos mais sofisticados de se controlar o rebanho servil... Não é mais preciso caçar os escravos em terras longínquas... Eles se multiplicaram aos milhões e agora disputam com os seus o direito de servir...
CASA-GRANDE E SENZALA DOS TEMPOS ATUAIS
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Amontoados sobre os morros que desabam com as aguas do verão, morrem os braços da lavoura e da indústria... Pior sorte do que o gado, as galinhas, os porcos e as máquinas, que gozam de edificações seguras porque são patrimônio do senhor...
Os quilombos, ameaça ao sistema escravocrata de ontem é atualmente personificado nos movimentos sociais que lutam pelo direito a terra, a moradia, ao trabalho digno... Como seus antecessores são duramente reprimidos pelos Poderes da Reprivada brasileira... Poderes que servem os senhores dos feudos agrários, das fábricas e dos bancos... Porque emana deles e é exercido em favor dos 1% que controlam 46% das terras, ou no máximo dos 10% que concentram 75% das riquezas socialmente produzidas!!!
Como se surpreender com as leis que favorecem a bárbarie? Seus legisladores são os representantes dos senhores feudais, dos industriais e dos banqueiros. Eles controlam os meios de comunicação e semeiam a desunião entre os trabalhadores, ao mesmo tempo que vigiam para que as cercas dos seus não seja transposta pela ansia de justiça dos povos...
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Do púlpito esta corja de falastrões nada mais fazem que defender os interesses da elite a qual representa... Venderam seus corpos e suas almas para o sistema!!!
Nosso sistema Judiciário goza dos benefícios da medicina nessa era de tanto desenvolvimento tecnológico. Porque permanecer cego, se há operações sem nenhum risco nas Ilhas Caymans ou na Suiça que devolvem a visão a deusa Themis ... Quando as vistas ficarem embaçadas, basta pingar o colírio verde com cifrões, carregados em maletas dos generosos donos deste país...Basta a hegemonia das elites ficar ameaçada que lá está a deusa Themis para atender as preces e retribuir o sacrifício dos seus fiéis...
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O Executivo tem historicamente executado os interesses do povo com os aparelhos de que dispõe o Estado para amenizar a percepção da injustiça, controlando a justa rebeldia dos povos com migalhas que caem da mesa dos senhores...
Aí está a história do Brasil... Que começou com uma invasão de terras e onde o enredo que faz bailar este paraíso carnavalesco permanece inalterado nesses cinco séculos. Permanecerá por mais cinco se ao menos os proletários de todo o Brasil se unirem... Este país não pertence a maioria daqueles que condenam os movimentos sociais ou que ficam na inércia diante daqueles que lutam pela terra, pela moradia, por melhores condições de trabalho...
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Trabalhador não deve engrossar a guarda pretoriana ideológica dos patrões... Você pode não ser um sem-terra, um sem-moradia e gozar de certo conforto. Mas amanhã seu silêncio ou sua atitude contrária aos interesses dos seus irmãos trabalhadores custará muito caro:
"Quando os nazis levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse"
(Martin Niemöller)
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